A planta que presenteei Fabiola, minha esposa, em
maio, dia das mães, chama-se “Flor do Deserto”. Na verdade, quando a encontrei,
ainda não era uma flor. Quando a vi, em Vila Velha, sob a ponte que liga a
cidade Canela Verde com Vitória, em floricultura bem junto às águas salobras da
nossa baía, a jardineira me contou, e eu relatei em crônica de meses atrás, que
daquela planta que me encantara nasceria belas flores. Com o encantamento,
confiei em sua floração, e a jardineira confirmou: “Sob o sol de Cachoeiro de
Itapemirim, aparecerá uma linda flor. ” Porém, por dias, e depois meses, a
decepção foi grande. Dia após dia, de manhã bem cedo, antes do alvorecer,
buscava a planta e nada diferente encontrava: nenhum sinal da floração. Mas,
agosto chegou, ainda com a timidez do sol e com os fatos ruins da nossa história
– história do Brasil. Contudo, para minha surpresa, ela escolheu esse mês para
desabrochar. Acho que foi um presente dos céus. Uma influência do meu pai. O
mês do seu aniversário.
Quem sabe a beleza do texto da cachoeirense Kelly
Wandermuren Thompson, advogada, e estudante de psicologia da São Camilo, possa
explicar a razão do desabrochar: “Hoje, e não ontem, nem o amanhã. Apenas hoje,
em presença infinita. Um lapso de 24 horas. Hoje, em que se vive o agora, sem
pressões ou projeções. Instante, marca indelével do momento sentido. Momento
escultor de imagens que amanhã já esquecerei. Hoje que não quer renovação, não
quer mudança, apesar de saber que elas virão, ainda assim, fulgura nas certezas
da esperança. Hoje, somente hoje, desejosa calmaria me invade. Traz a sensação
da transcendência que ultrapassa o gotejar do tempo. Quando nesse hoje, o tempo
já não importa, a ponto de ser esquecido ou desprezado, ele se eterniza em
encontro marcado nas lacunas das palavras não ditas. Basta o silêncio que se
adianta com a paz. Um amanhã sereno e livre de preocupações. ”
Pela manhã eram três brotos. Durante o dia: sol
forte. À noite um dos brotos desabrochou e uma linda flor se apresentou. Diante
da flor e dos dois brotos vermelhos da flor do deserto: eu permaneci, em
silêncio. Naquele instante, deixei o pensar e as palavras para outro dia.
Preferi o prazer do momento. O prazer da imagem. O desabrochar da flor, a
leitura do texto, o vermelho em minha retina, me fez esquecer as preocupações
do futuro.
Sergio Damião
Santana Moraes
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