Em 25 de março
de 2017: 150 anos de Emancipação Política. Bernardo Horta de Araújo, resgatado
na história de Cachoeiro de Itapemirim, por Higner Mansur, representa nosso
maior valor em cidadania. A Academia Cachoeirense de Letras (ACL) marcou
presença na efeméride, no Teatro Municipal, com leituras de textos dos nossos
melhores escritores. As presenças de David Lóss, presidente atual, do
presidente eleito para a próxima gestão, Roney Moraes, mais a Secretária de Cultura
– acadêmica Fernanda Martins, na Sessão Solene da ACL, é a certeza de dias
melhores para nossa Academia e a cultura do município. Escolhi dois poetas
(Newton Braga e Benjamin Silva) e um cronista (Rubem Braga) para representarem nossos
escritores nesses 150 anos.
De Rubem,
separei: “Chego à janela de minha casa e vejo que umas coisas mudaram. Estou
cercado de lembranças... É extraordinário que esteja aqui, nesta casa, nesta
janela, e ao mesmo tempo é completamente natural e parece que toda minha vida
fora daqui foi apenas uma excursão confusa e longa: moro aqui. Na verdade onde posso
morar senão em minha casa? [...] Bem, tenho que sair. Mas no momento em que vou
deixar a janela, vejo um homem que passa para baixo; é um velho com seu andar
lento. É Chico Sapo. Lá vai ele, no seu lento andar de sempre, mais velho e
útil que o pé de fruta pão, de idade talvez das águas do rio, e tão antigo, e
tão laborioso e tão Cachoeiro de Itapemirim como as águas do rio...” Sobre o
poeta Benjamin Silva, escreveu Atílio Vivacqua: O lirismo de Benjamin é, no
fundo, uma comovida atitude ante as coisas e a gente da terra. Aquela imanência
poética dos materiais de que se serve transfunde-se pura e integral em seus
versos. O poeta utiliza-se da matéria prima tal qual a colhe em seu estado
nativo, não para transformá-la num artefato, mas para revelar-lhe os princípios
e as propriedades naturais. Escreve o “Frade e a Freira” não como um curioso
acidente geográfico, ele revela a realidade poética nas duas pedras: “Diz a
lenda – uma lenda que espalharam - / Que aqui, dentre os antigos habitantes./
Houve um frade e uma freira que se amaram.../ Mas que Deus os perdoou lá do
infinito/ e eternizou o amor dos dois amantes/ Nessas duas montanhas de
granito.” De Newton, escolhi seu melhor lirismo: “Bem sabes que, se um dia, na
estrada da vida,/ o destino me destacasse entre os humanos,/ como um leito
sobrenatural,/ e colocasse ao alcance de minhas mãos vazias/ a flor raríssima e
sonhada/ que os homens chamam de felicidade,/ eu a colheria, carinhosamente,/ e
iria depositá-la a teus pés, como oferenda do meu pobre amor./ [...] No
entanto, eu te desejo um mal, eu te desejo um sofrimento enorme, sem remédio:/
- perdoa: que tu sentisses, de mim,/ a saudade que sinto de ti.” Em uma de
minhas crônicas, escrevo: Acho que a lua, quando cheia, bem cheia, quase
transbordando de algo desconhecido, fica mais bonita em Cachoeiro de
Itapemirim. Acho que a poesia e a crônica bem representam o amor por nossa
cidade.
Sergio
Damião Sant’Anna Moraes
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