sexta-feira, 15 de julho de 2016

Sobre o fim e o começo

Recebi do Juarez Marqueti um DVD. Estava próximo à Santa Casa e levava comigo um livro de poesias do T. S. Eliot, selecionei: “O tempo presente e o tempo passado/ Estão ambos talvez presentes no tempo futuro/ E o tempo futuro contido no tempo passado./ Se todo tempo é eternamente presente/ Todo tempo é irredimível.” E conclui: “Em meu princípio está meu fim.” Era uma quinta-feira. No dia seguinte viajaria para Vila Velha. Na sexta, pela manhã, logo que alcancei a BR 101, acionei o DVD e passei a ouvir a voz do Juarez, inconfundível. Marcante. Em alto e bom som ouvia a tradução de músicas românticas da língua inglesa e francesa, a maioria americana e bem conhecida. Além da melodia agradável, as letras das músicas decifradas falavam de paixões, desilusões, esperanças, alegrias, angústias... Isto é, todos os sentimentos humanos. Entre uma melodia e outra, uma citação filosófica, tal como: entre a razão e a emoção, a que nos apegar? Algo difícil de responder. A razão é o que organiza a sociedade, se aproxima do que nos faz verdadeiramente humanos, um ser pensante e inteligente. Mas, é a emoção, com seus impulsos, que move o mundo e a humanidade. Não seríamos o que somos sem a coragem e a pulsão. Sem os considerados diferentes ou loucos. A razão se aproxima do amor, com suavidade, tranquiliza a alma, modera nossos desejos, liberta o pensamento; a emoção busca a paixão e devora a razão, e com isso acende desejos e domina nossos sentidos.

Pela BR, com o dia nublado, as melodias preenchiam meus sentidos, as letras das músicas eu gravava em memória. Ouvia: Para quem ama, não necessita de palavras, basta o olhar. O olhar é revelador. Para o apaixonado, a pessoa amada é única e primeira. A busca é pela completude (corpo e alma). Além das coisas da paixão amorosa, as melodias falavam da natureza, do sol e do céu, das cores do arco-íris, de amizades, do mundo maravilhoso em que vivemos. Com a música, imaginamos um mundo melhor, pessoas vivendo o seu dia, vivendo em paz – sem matar ou morrer. Com ela, desejamos a liberdade do pássaro, para terras distantes, em campos verdes e florestas, seguindo o vento, voando como o pombo - Skyline Pigeon. Ao chegar a Cachoeiro, procurei a poesia e li: “A única sabedoria a que podemos aspirar/ É a sabedoria da humildade: a humildade é infinita. [...] Lar é de onde se vem. À medida que envelhecemos/ O mundo se torna mais estranho, mais intrincada essa questão/ De distinguir mortos e vivos./ Não o intenso momento/ Isolado, sem antes e depois, / Mas toda uma vida ardendo a cada instante/ E não a vida de um homem apenas/ Mas a de antigas pedras que não podem ser decifradas./ Os velhos devem ser exploradores,/ Aqui ou ali, não interessa/ Devemos estar imóveis e contudo mover-nos/ Rumo à outra intensidade/ A uma união mais ampla, uma comunhão mais profunda/ Em meu fim está meu princípio.”

Sergio Damião Santana Moraes

Nenhum comentário:

Postar um comentário