sexta-feira, 1 de julho de 2016

Morro de Palha

Nasci e cresci próximo ao Morro Alagoano, em Vitória. Bem no seu topo, apresentava-se um campo de futebol. Atravessava ruas, subia e descia ladeiras. Por vezes seguia pelo alto de Caratoira. Em outros dias, pela Volta do Rabayoli, até encontrar o campo e o time de futebol rival. Sempre fui peladeiro. Para as peladas, o morro ao lado, no colégio dos Padres Ludovico Pavoni, no Santuário de Santo Antônio, era local mais adequado. O mais desejado. Antes do futebol apreciava a vista da Ilha das Caieiras e o braço de mar que da forma à Ilha de Vitória. O futebol, a paixão pelos campos de peladas, nunca abandonei. Mesmo na vida adulta, após a formatura, em São Paulo, sempre arranjava tempo e lugar para o jogo de futebol. Em Cachoeiro, mantive o hábito de peladeiro. Desde o início deste século passei a morar no bairro Gilberto Machado, no comecinho do morro. Outro hábito criei: o trajeto do hospital até o apartamento. Contornando o campo do Estrela – Sumaré. Observo sua arquibancada. E de bem alto, do alto do Sumaré, imagino os meninos do “Seu Zezinho” correndo atrás da pelota. Batata, Zédu, Gedião, Gastão, Abel, Gatinha, Jair Bala... Todos aqueles que escreveram a história do seu Zezinho. Direcionavam a bola para o chute certeiro que um dia alegraria o torcedor estrelense. Do Paulo Globo, ouvi: “Seu Zezinho quando me viu com as pernas tortas me ofereceu a camisa 7 e me enviou para a ponta direita. Eu gostava de ser meio campista, a divergência me fez chegar ao Campo do Leopoldina, apesar do amor pelo Estrela do Norte Futebol Clube. Minha história no Leopoldina durou pouco, logo ele me chamou e me fez treinar no meio campo. Mas, no dia do jogo oficial me fez voltar a camisa 7 e ocupar a ponta direita. Era o jeito de ser do professor Zezinho. Ele bem que tentou, mas Garrincha foi único.”

O trajeto atual, contornando o campo do Estrela, é mais trabalhoso: rua estreita, carros e caminhões estacionados em local indevido - pela manhã e durante todo o dia. À noite, caminhão de lixo dificultando a passagem. Ainda assim é o meu caminho preferido. Quando contorno o Sumaré, gosto de ver o gramado e arquibancada, imaginar o craque de futebol que nunca fui; o gol que nunca fiz e as alegrias, em campo, que nunca proporcionei. Mesmo sem as lembranças de dentro de campo, é possível se alegrar com as histórias da cidade e do futebol. Com o médico Gastão Coelho é assim. Do alto do Morro da Palha, bem perto do antigo Campo do Careca – hoje, Escola Fraternidade e Luz, com Fernando Netto, fala de pessoas e lugares, alegra o dia do Cachoeirense Ausente – Zédu e do presente – Gedião, com suas reminiscências. Fala da Rua Ana Machado, da Praça Vermelha, do CDM e do desfile do Liceu Muniz Freire. Coisas de Cachoeiro, da cidade que esconde histórias valiosas de pessoas e lugares. Amizades bem mais valorosas que a prata e ouro de cidades do Brasil afora.

Sergio Damião Santana Moraes

2 comentários:

  1. Se soubesse quantas alegrias deixaria de proporcionar acaso tivesse sucesso no futebol, quantos pacientes se tornariam impacientes sem a sua atenção nos consultórios e hospitais !!!

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  2. Se soubesse quantas alegrias deixaria de proporcionar acaso tivesse sucesso no futebol, quantos pacientes se tornariam impacientes sem a sua atenção nos consultórios e hospitais !!!

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