domingo, 2 de julho de 2017

Diálogos Médicos

O médico pergunta a idade do paciente. Ele responde: sessenta anos. Na verdade, continua, são sessenta anos e meio, pois, o pai demorou em registrar. O senhor sabe como era... O médico pergunta o nome. Bom doutor era Perfides, mas, com o tempo ficou Fidinho, era muito estranho, e feio, Perfides. O médico impacientava-se com a demora para uma simples identificação. Em outro dia de trabalho, na urgência do hospital, interna uma presidiária. História criminal sugestiva de tráfico de drogas do norte do país para a região sudeste. Ela poderia estar trazendo drogas para os nossos filhos e muitos outros adolescentes, foi o que pensou. O dever profissional supera o constrangimento inicial. A presidiária, pela dor abdominal e atraso menstrual (amenorréia), necessita permanecer internada para investigação c1inica. Por pior que fosse o hospital, ainda assim, era melhor que o presídio, imaginou o médico. Dois dias depois ela apresentava-se melhor, para maior segurança necessitava permanecer hospitalizada. Ela solicita alta do hospital. Quero retornar ao presídio, diz. O médico argumenta. Ela insiste: no presídio tenho amigas que me cuidam. Sinto-me melhor lá, conclui. Dias depois encontra no pronto socorro um rapaz com dor abdominal e lombar intensa sugestivo de có1ica renal. A mãe pede: doutor não faça muitos remédios. Não aplique um analgésico forte. Prescreva o remédio em forma de comprimido. Ele estranha e pergunta a razão. Prefiro meu filho com dor e no hospital, do que no presídio... O portão do hospital, local estratégico na entrada para o trabalho, encontra-se fechado. Por uma câmera ele é avistado e pelo interfone ouve o funcionário. Pelas perguntas ele imagina um novato. Identifique-se, diz o neófito. Ele apresenta um nome com sobrenomes misturados. A porta é aberta. Pelo interfone o médico confere se ele entendera o nome. O funcionário questiona. Qual seu nome? O médico visita os pacientes e retorna rapidamente. Solicita abertura do portão. O noviço repete, identifique-se. O médico: eu já entrei, só quero sair.
O atendimento na saúde brasileira, Sistema Único de Saúde (SUS), desde a promulgação da última Constituição (1988) funciona assim: “Um dever do Estado e um direito de todos.” No papel uma perfeição, a prática longe disso. Mesmo assim, um avanço comparado a muitos países. Os Estados Unidos da América do Norte encontra-se em um impasse. O país mais rico do mundo, o que mais gasta em saúde (percentagem do PIB), entretanto o de maior número de pessoas (52 milhões) sem qualquer tipo de garantia de atendimento. Nós brasileiros, apesar dos diálogos conflitantes e confusos, temos a lei do nosso lado. Pode não haver o atendimento na prática diária, mas está escrito que temos o direito. Coisa de brasileiro, primeiro faz a lei e depois decide quem paga a conta. Isto é, a decisão do financiamento fica, sempre, para depois.  O americano, por isso um dos motivos para a revolta com o presidente Trump, além de sua insensatez, primeiro pergunta quem paga a conta para depois dizer se todos têm o direito. Eles sabem que não existe “almoço grátis”.  O Simes (Sindicato dos Médicos) adverte, em Cachoeiro, quanto ao processo de seleção para contratação de médicos, pela prefeitura, não tem diálogo. Não podemos aceitar salários aviltantes.



Sergio Damião Santana Moraes

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