quarta-feira, 3 de maio de 2017

Samarina

São vinte anos de idade. Há muito que se comporta como se a maioridade possuísse. Apresenta-se com uma cintura fina, tronco forte e largo. Elegantemente coberta. Veste-se diferente, um verde claro constante. Uma beleza exuberante! Quem a conhece apaixona-se à primeira vista. Diferente de todas as outras, é silenciosa. Prefere ser observada.  Transmite tranquila alegria. Muitos foram os homens que se apaixonaram. Mesmo assim, as mulheres não sentem ciúmes. Pelo contrário, nutrem um sentimento de admiração e incentivam a paixão. Reside numa praça, no alto do morro do bairro Gilberto Machado, morava com os macacos e cuidava como seus filhos, eles se foram (por isso, também chamada, Praça dos Macacos). Protege a praça dos ventos, da chuva e do sol. Pela manhã com os primeiros raios de luz podemos ver os reflexos em seu tronco esverdeado. O ir e vir dos macacos cativava as crianças, adolescentes e adultos que procuravam descanso. Foi na busca de descanso que encontrei um morador antigo aproveitando o regalo de fim de tarde em uma das partes da grande árvore. Falou do nascimento, na verdade uma muda trazida de uma das viagens de empresário cachoeirense, que a ele juntou-se um médico, e juntos a plantaram no local. Como em um parto, a irmã gêmea, a outra muda, foi transportada para o final da Beira-Rio. Daquele dia em diante, Jonas, o morador antigo, tornou-se guardião da Samarina. Nome estranho que o Jonas aprendeu anos depois, com um estrangeiro entendido do assunto.
Algum tempo atrás, após vento forte e arrasador, parte do corpo tombou, pensaram no fim da Samarina, foi contida com uma “tipóia”. Uma operação realizada pelos moradores, que na ocasião eram poucos. Sorte nossa, cresceram ramos fortes, rentes a terra. Hoje, seus ramos e galhos permitem um passeio pelo seu interior. Sementes e flores são admiradas – são os Samalheiros. A força de seus ramos, a delicadeza de suas sementes, traz a harmonia e nos faz voltar ao tempo de infância. Ao lado da casa onde nasci: pés de carambolas; na rua que chegava ao mar, o de jenipapo; junto às pedras do mar do Cais do Avião, as mangueiras... A Praça dos Macacos que abriga nossa árvore australiana, apesar da admiração que desperta, pode desaparecer. De tudo que se observa na árvore, o melhor é sentir a liberdade de se sentar à sua sombra. Na Praça da Samarina caminha-se em sua volta como um grande abraço. Sente-se seu perfume, admira-se sua altura, seu porte, sua resistência às intempéries. À sombra dessa árvore é possível pensar em coisas simples e boas. Dia desses, uma boa notícia, dois pequenos macacos (Saguis) encontravam-se pendurados nos fios que encobrem a Avenida Francisco Lacerda de Aguiar. A volta dos Saguis significa vida longa para a nossa Samarina e alegria para a nossa praça.

Sergio Damião Santana Moraes


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