domingo, 5 de fevereiro de 2017

Rua Oscar Freire

Gosto de caminhar pelas ruas das cidades. Qualquer cidade. Mais ainda pelas ruas de Cachoeiro em direção ao rio Itapemirim. Faço o trajeto até a Ilha da Luz. Ao caminhar, vemos detalhes da urbe. Detalhes do calçamento em torno das casas, lojas e prédios; da coleta e destino do lixo; das árvores e plantas próprias da região; bem como os hábitos da população, principalmente o uso adequado e racional da água.  É a melhor maneira de conhecermos um povo. O que vemos pelas ruas das nossas cidades é desanimador. Tanto pela parte pública, quanto pelo lado das pessoas.  Não é difícil constatar os contrastes em nosso país. Em todas as cidades brasileiras, um pouco melhor no sul do país. Além de não exigirmos a limpeza, degradamos o ambiente: jogamos latas e plásticos nos rios; destinamos e armazenamos mal o lixo a ser recolhido; resíduos de animais nas calçadas... Isto é, o lixo não é um problema de cada um de nós.  Não nos importamos onde ele vai estar desde que não esteja na porta do meu estabelecimento ou da minha casa. Para desaparecer o mosquito, precisamos mudar culturalmente. Antes das vacinas, que tanto procuramos e desejamos, devemos pensar em nosso lixo de cada dia. Um grau de civilização que precisamos alcançar.
 Dia desses, estava em São Paulo, revi uma rua: Rua Oscar Freire. Fica no bairro dos Jardins, na capital paulista. Já a conhecia de tempos atrás, na época da pós-graduação, na residência médica do Hospital das Clínicas. Morava na Rua Teodoro Sampaio, uma rua que corta a Oscar Freire, já no seu final, bem próximo à Avenida Dr. Arnaldo. Seu ponto mais charmoso é no encontro com a Rua Augusta. Apesar de todo luxo, beleza e ilusão da rua atual, Oscar Freire de Carvalho nasceu na Bahia. Médico, homem simples, formou-se na primeira Faculdade de Medicina do Brasil (Salvador). Faleceu na capital paulista no início dos anos vinte do Séc. passado. Médico Legista, pelos seus conhecimentos ajudou a fundar a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A convite do Prof. Arnaldo Vieira de Carvalho chefiou o Instituto Médico Legal (IML). Ao falecer, a rua ao lado do Instituto tomou o seu nome.  Com o tempo, a rua paulistana tornou-se uma referência em moda.  A beleza das lojas e o seu traçado tornaram-se conhecidos no Brasil e no Mundo. No dia em que a visitei, não caminhei. Sentei em frente a uma livraria e ali fiquei. Observei as pessoas, gente do mundo inteiro, permaneci horas junto à calçada, com o celular e jornal sobre a mesa. Não fui importunado, não sofri agressões e nem houve arrastões. Vi pessoas com animais; vi pessoas com carrinhos provenientes de uma feira livre... Coisas de uma Rua brasileira protegida da barbárie. À tarde, caminhei em Moema, bairro em que as vias públicas possuem nomes indígenas. Pelos seus arredores alcancei o Parque Ibirapuera, os raios do sol poente apresentavam-se sobre as árvores e mostravam luzes diferentes no alto dos monumentos e prédios. Um encantamento. Renovava minha esperança de um dia caminhar em Cachoeiro sem me entristecer com os lixos esparramados por nossas ruas.


Sergio Damião Sant’Anna Moraes

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