Encontrava-se
sentado, observava o vai e vem das pessoas. Pensava nas paixões e nos vários
tipos de amores. No amor de mãe, pai, filho, amigos... Amores fraternais. Lembrou-se
do mais instigante, daquele que foge aos conceitos e nem sempre se explica: o
amor entre um homem e uma mulher. Amor e paixão se confundindo na loucura dos
desejos. Coisas que os poetas descrevem com precisão, maioria das vezes sem
nunca ter vivenciado, descrevem dores que nunca sentiram e sentem o fogo de uma
paixão que nunca possuíram. Ao fim do pensamento, conclui: o amor perfeito, entre
um homem e uma mulher, nunca é duradouro. Sempre se modificará. De tão intenso
é impossível vivê-lo por um longo tempo. O amor intenso, e perfeito, com o
passar dos dias cria dependências, conflitos do querer e não querer, céu e
inferno, angústias... Vive-se minutos de alívios e horas de angústias. Algo
imaturo, próprio dos adolescentes. Por ser um sentimento intenso, acontece
poucas vezes na vida. Quando na vida adulta, a racionalidade humana não permite
seu desabrochar. A chama do desejo se apaga em um piscar de olhos, numa curva
ou em uma rua qualquer.
Ele pensava...
Quando ela apareceu. Sentou-se em frente a sua cadeira. Ele aparentava maturidade;
ela jovialidade. Uma pele branca: branca como a neve. Falou dos filhos.
Encontravam-se em uma Clínica Médica. Silvio aguardava o exame de próstata,
completara 50 anos. Apesar de a aparente segurança no sentar, andar e falar,
ela percebia sua ansiedade, o temor em seus olhos. A sensibilidade feminina
aflorava naquele instante. Percebia a insegurança do homem à sua frente. Isso a
seduzia. O olhar carente que ele demonstrava a seduzia. Um olhar, que apesar de
inseguro, a desnudava. Além do olhar, o cheiro. Diferente de um perfume. Um
cheiro que não experimentara antes. Algo a atraía. Um cheiro que despertava o
desejo. Uma paixão. Logo foi chamado. Ela observava seu caminhar. À porta do
consultório, antes de entrar, sorriu. Ela ouviu: Srª Márcia, sua vez. A Drª à
espera. Buscava o creme para uma pele macia, protegeria a pela branca como a
neve.
Momentos
depois voltaram a se encontrar. Na farmácia buscava a medicação prescrita para
a próstata. Ela, o creme protetor solar. Os olhares foram rápidos. Segundos
eternizados. Estavam vulneráveis. Deixavam-se seduzir. A sedução é própria dos
animais. Foi seduzida, sem uma palavra. Cheiro e olhar: dois sentidos
animalescos. Algo que o homem traz das cavernas, do seu tempo de caçador. Ela
se deixava seduzir. Gostava de pensar na ideia de ser amada e desejada da
maneira que ele a olhava. Apesar dos sentidos aparentemente rudes, ela via
leveza no olhar. Via a sutileza humana: via o amor puro. Ele perguntava o número:
ela parecia não ouvir. O seu número do celular, ele disse. Caso eu precise de
ajuda, ligarei. Após instantes de hesitação, ela ditou. Não foi preciso anotar,
gravou em memória. Gravou, também, a silhueta de um corpo perfeito.
O telefone
tocava, insistia... Uma, duas, muitas vezes. A filha encontrava-se em seus
braços e o filho cobrava instruções para o dever de casa escolar. O telefone
foi deixado de lado. Ainda tocou algumas vezes. O amor perfeito ficaria em sua
mente. Nunca o esqueceria. Permaneceria nos sonhos e nos seus instantes de silêncio.
Era tarde para tentar vivê-lo.
Sergio Damião Santana
Moraes
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