domingo, 16 de outubro de 2016

Tarde Chuvosa

Desci o morro do Gilberto Machado em direção à beira do rio, final de semana diferente em Cachoeiro de Itapemirim, o sol se ausentava do nosso céu desde o início da tarde, nuvens escuras tomaram seu lugar, o horizonte, sem o sol, encontrava-se negro. Tão logo alcancei a Ponte de Ferro, no centro da cidade, uma chuva fina se apresenta. Pensei em retornar ao apartamento... Após breve hesitação, resolvi prosseguir. Mantive o passo junto ao leito do rio. Ele, o rio, nos leva a isso, seguir em frente, é o seu destino, sua sina. Segui em direção contrária, segui em direção à Ilha da Luz; ele, em direção ao mar. Após alguns metros, as gotas das águas que desciam das nuvens intensificaram-se, encharcando meu corpo, turvavam minha visão como lágrimas em momentos de êxtases. Apesar da intempérie, fixei meus olhos nas coisas do rio, seu leito e margens. Na calçada da beira do Itapemirim apresentavam-se poucos transeuntes. A chuva afastava as pessoas. Eu, ao longe, tinha como companhia a garça e o mergulhão. Destacavam-se, no centro do rio, as penas esbranquiçadas da garça, contrastavam com o negro do mergulhão e o verde das águas. Apesar da determinação nos passos, não era o que esperava para o fim de tarde do sábado, procurara o lazer, encontrei o frio. No corpo, as roupas molhadas; na mente, as dúvidas; perguntas diversas de uma vida toda - passado e presente. Buscava respostas nas águas da chuva que se encontrava com as do rio modificado. Permaneci como antes. Caminhei com a chuva, não sabia dizer sobre o momento diferente (ora aproveitava as gotas das águas; ora pensava em fugir). A chuva, diferente do sol, nos faz sair da inércia quando incomoda de imediato, muda temperatura do corpo e altera emoções. Mas: era aquela chuva; outras chuvas, em um lugar distante de Cachoeiro, não tiveram o mesmo efeito. Cachoeiro me leva a pensar. Talvez, pela presença das coisas conhecidas à minha volta ou pela intimidade com as águas do seu rio. Enquanto pensava, a chuva acariciava minha face, preenchia o leito do rio e gradativamente emoldurava o Itapemirim.
             No domingo, bem cedo, o frescor do sol, sua claridade e luminosidade, se apresentaram no céu de Cachoeiro. O rio mais encachoeirado, límpido, com ruídos fortes e sons inebriantes, festejava os seus pescadores. Ele exibia a brancura das garças e os mergulhões garantiam a pureza das suas águas. Voltei aos passos pela calçada, carregava as dúvidas do dia anterior. No domingo, não pensei, apenas apreciei o nosso rio e deixei as respostas para uma próxima chuva.




Sergio Damião Santana Moraes

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