Desci o morro do Gilberto Machado
em direção à beira do rio, final de semana diferente em Cachoeiro de Itapemirim,
o sol se ausentava do nosso céu desde o início da tarde, nuvens escuras tomaram
seu lugar, o horizonte, sem o sol, encontrava-se negro. Tão logo alcancei a
Ponte de Ferro, no centro da cidade, uma chuva fina se apresenta. Pensei em
retornar ao apartamento... Após breve hesitação, resolvi prosseguir. Mantive o
passo junto ao leito do rio. Ele, o rio, nos leva a isso, seguir em frente, é o
seu destino, sua sina. Segui em direção contrária, segui em direção à Ilha da
Luz; ele, em direção ao mar. Após alguns metros, as gotas das águas que desciam
das nuvens intensificaram-se, encharcando meu corpo, turvavam minha visão como
lágrimas em momentos de êxtases. Apesar da intempérie, fixei meus olhos nas
coisas do rio, seu leito e margens. Na calçada da beira do Itapemirim
apresentavam-se poucos transeuntes. A chuva afastava as pessoas. Eu, ao longe,
tinha como companhia a garça e o mergulhão. Destacavam-se, no centro do rio, as
penas esbranquiçadas da garça, contrastavam com o negro do mergulhão e o verde
das águas. Apesar da determinação nos passos, não era o que esperava para o fim
de tarde do sábado, procurara o lazer, encontrei o frio. No corpo, as roupas
molhadas; na mente, as dúvidas; perguntas diversas de uma vida toda - passado e
presente. Buscava respostas nas águas da chuva que se encontrava com as do rio
modificado. Permaneci como antes. Caminhei com a chuva, não sabia dizer sobre o
momento diferente (ora aproveitava as gotas das águas; ora pensava em fugir). A
chuva, diferente do sol, nos faz sair da inércia quando incomoda de imediato,
muda temperatura do corpo e altera emoções. Mas: era aquela chuva; outras
chuvas, em um lugar distante de Cachoeiro, não tiveram o mesmo efeito.
Cachoeiro me leva a pensar. Talvez, pela presença das coisas conhecidas à minha
volta ou pela intimidade com as águas do seu rio. Enquanto pensava, a chuva
acariciava minha face, preenchia o leito do rio e gradativamente emoldurava o
Itapemirim.
No domingo, bem cedo, o frescor do sol, sua
claridade e luminosidade, se apresentaram no céu de Cachoeiro. O rio mais
encachoeirado, límpido, com ruídos fortes e sons inebriantes, festejava os seus
pescadores. Ele exibia a brancura das garças e os mergulhões garantiam a pureza
das suas águas. Voltei aos passos pela calçada, carregava as dúvidas do dia
anterior. No domingo, não pensei, apenas apreciei o nosso rio e deixei as respostas
para uma próxima chuva.
Sergio Damião Santana
Moraes
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