domingo, 30 de outubro de 2016

Tabuada

“2 x 2 são quatro.” Não podemos negar e muito menos esquecer. É um fato. Algo objetivo e esperado. Está escrito na matemática. Um grupo de ciências (aritmética, geometria, álgebra, trigonometria, cálculos, etc.) que estuda por meio do raciocínio dedutivo as propriedades dos seres abstratos (números, figuras geométricas, funções, espaços, etc.) e as relações estabelecidas entre si. Seu uso nos leva a exatidão rigorosa. Portanto 2 x 2 são quatro. Nem sempre o desejado. Podemos criar expectativas, ilusão em certos momentos da vida, mas na realidade o resultado sempre será o quatro. Para ser diferente, só com magia, em um mundo virtual, um outro mundo. O mundo da fantasia, algo da nossa imaginação. Quando criança, por diversas vezes, viajei por este mundo, hoje não é mais possível.  
Bem... Você pode até querer o número diferente do quatro, a ilusão será temporária, bem pouco tempo, um tempo inexorável, tão certo como a finitude humana. Logo será cobrado pela operação aritmética equivocada e fantasiosa. Pode argumentar: deixo um espaço vazio, posso refazer a qualquer tempo a operação. Acrescentar: na vida temos as coisas subjetivas. Coisas que não explicamos. Aparecem no tempo. É verdade. Ainda assim, um caminho perigoso. Os números não mentem. Deixam marcas. Também é verdade que o tempo não tem a precisão matemática. Menos ainda a exatidão. O tempo faz e refaz. Ele pode somar e multiplicar, diminuir e dividir em momentos diversos de nossas vidas. Mas ele faz e refaz ao seu bem querer. Temos que ter paciência. Porém, temos pressa. Quando criança, minha mãe tomava a tabuada. Enquanto cozinhava, perguntava: 7 x 7. Eu dizia: 49. E, 7 x 8. Eu demorava a responder, engasgava, e ela ajudava: cinquenta... Eu completava: seis. Enquanto ela mexia a panela de arroz, ou de feijão, mostrava um sorriso de satisfação e dizia: parabéns pela resposta certa. Quando perguntava 2 x 2, eu gritava, esta eu sei. Não precisa ajudar. São quatro. Ela completava: não se esqueça nunca. Para toda a sua vida. Em todos os momentos. Viva a conta certa e não se arrependerá. Hoje, ela não pode lembrar a tabuada. Perdeu a memória. Lembro por ela. Em certo sentido, a tabuada, lembrava uma cantilena. Para alguns colegas era uma lenga-lenga, um nhem – nhem – nhem. Na cozinha da nossa casa, junto às panelas de arroz e feijão, nunca pensei assim. Tempos depois, nem sempre o 2 x 2 se apresentava com um resultado claro e evidente. Resultados diferentes apareceram. Lembrava da tabuada e rapidamente refazia a operação aritmética. E a vida voltava ao fluxo esperado e desejado. Vivemos buscando o número diferente, muitas vezes o infinito. As máquinas atuais permitem isso. Tornaram-se perigosas. Prefiro a tabuada da minha mãe. Simples. Sem erro. Não mente. É o que é.



Sergio Damião Santana Moraes

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