Li, certa vez, uma assertiva: Em um bom texto devem
constar duas a três palavras cujo significado desconhecemos. Não sei se isto é
verdade. É verdade que, quando consultamos o dicionário, e retornamos da
leitura, a palavra desvendada enaltece a crônica, o texto ganha corpo e
imaginação. Como tomar um bom vinho em uma taça apropriada. Lembro-me de alguns
textos. Um deles, anos atrás, falava de “notícias alvissareiras”. Algo sobre a importância
da escolha do Brasil para sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada (Rio de
Janeiro-2016). Mas, “aí está o busílis”, não pode ser esquecido, pois, assim
como foi animador e esperançoso a escolha do Brasil para a Copa e o Rio de
Janeiro para as Olimpíadas, as contas e orçamentos das obras de infraestrutura
na Cidade Maravilhosa tornaram-se um pesadelo. Perdemos a chance pelo excesso
ufanístico. Além da permanência da violência e do mosquito Aedes.
Pensei
em Alhures, pois todos nós, mesmo por um momento na vida, gostaríamos e
procuramos estar em outro lugar. Li um conto, do séc. XV, um jovem para fugir a
uma punição cumpre uma ordem da rainha, viaja pelo mundo em busca do maior
desejo das mulheres. A liberdade foi o que uma senhora centenária sentenciou ao
ser inquirida, mas o desejo da liberdade não fica restrito as mulheres. Rubem
Alves, escritor e professor paulista, falecido anos atrás, descreve em um dos
seus livros o relacionamento entre um menino e seu passarinho. O pássaro
mostrava-se feliz com a amizade, das suas andanças pelo mundo sempre retornava com
as notícias e através de um canto alegre as contava ao amigo. O menino
gradativamente, pela imaturidade e insegurança, se apossa do passarinho por
medo dele voar e não mais voltar, o aprisiona em uma gaiola, a mais bela das
gaiolas, a mais linda e confortável das redondezas, mesmo assim, a tristeza
toma conta do pássaro, ele lentamente adoece e esquece o canto. O menino
percebe a tristeza com o aprisionamento e o liberta. Prefere a alegria e a
satisfação de um novo encontro, mesmo com a incerteza da volta. Prefere o risco
de ficar apenas com as lembranças. A liberdade e o amor devem caminhar juntos.
O amor que aprisiona é egoísta. Quando amamos, desejamos voltar sempre, não é
necessário corrente. Os liames são afetivos. Afixados na alma. Os elos feitos
de ferro enferrujam e se rompem. O amor quando em parceria com a liberdade
nunca se encontra alhures. Com o corpo e alma livres, o amor se aproxima.
Sergio Damião Santana
Moraes
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