Nascem prontos
os artistas, os gênios. Pronto para nos mostrar a beleza que a vida é ou
poderia ser. Nem sempre desfrutam do dom de sua genialidade, de seus encantos. Muitas
vezes caminham para a autodestruição sem sentido. Como se a genialidade
consumisse o desejo de uma vida terrena. Fugissem do seu tempo. Vivem através
das obras, da música, da poesia, dos contos, das idéias, da imagem e da memória
de muitos. Nesses, o despertar é bem cedo, na infância ou juventude. Podemos
viver muitos anos, viveremos cada vez mais, contaremos muitos anos. Fruto do
controle de doenças infecciosas, do uso racional de antibióticos, das vacinas,
do saneamento básico e dos hábitos saudáveis. Porém, mesmo assim, a
genialidade, o despertar do artista se fará em sua juventude. Assim foi com
Einstein, Freud, Carl Jung, Da Vinci, Caravaggio, Cazuza, Pelé, Maradona, Amy,
Rubem Braga, Sergio Sampaio...
Na
literatura brasileira, no início do Império, lembro Joaquim Manuel de Macedo.
Médico. Conhecido como Dr. Macedinho. Torna-se, aos 24 anos de idade, um dos primeiros
romancistas brasileiro. Apresenta, em forma de folhetim, o romance “A
Moreninha”. Depois, com as crônicas em jornais da época, passa a explicar e
mostrar as coisas dos amores e o cotidiano do Rio de Janeiro. Rubem Braga, em
crônicas sobre Artes e Artistas, da Editora Autêntica – 2016, conta a ideia de
Gilberto Freyre: “Com o passar dos anos, e já envelhecidos, o poder criativo
cresce.” Cita, como exemplo, Pablo Picasso. Rubem concorda com a vitalidade e capacidade
laborativa do pintor catalão, quanto à criativa nem tanto. Ele escreve: por
volta dos setenta anos, Picasso “parou de inventar moda.” Pintou por mais
vinte, porem, sua arte parou de ser subversiva. Seguiu uma rotina. Não via em sua
constatação nenhum demérito. Também, nada conclusivo. Logo adiante fala de
Carlos Scliar, pintor gaúcho, aos 50 e poucos anos, na prefeitura de Porto
Alegre, com seus painéis: mexeu, viveu, e deu uma revirada de mesa.
Claro
que, a falta da genialidade não impede o aparecimento de muitas capacidades.
Fica a dúvida de Émil Cioran: “O que eu sei aos 60, sabia aos 20: 40 anos de um
longo e inútil trabalho de verificação.” Acho que não. Prefiro Confúcio: “Aos
15 anos, orientei meu coração para aprender. / Aos 30, plantei meus pés
firmemente no chão/... Aos 70, eu podia seguir as indicações do meu próprio
coração, pois o que eu desejava não mais excedia as fronteiras da justiça.” Estes,
com a transpiração, perseverança e disciplina organizam nosso mundo. Mas, é na
beleza da genialidade e na loucura das inspirações que nos sentimos humanos.
São as loucuras dessas pessoas diferentes que transformam e impulsionam a vida.
Sergio Damião Santana
Moraes
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