Os jogos
olímpicos, no Brasil, se foram. No domingo, 21 de agosto, a chama olímpica se
apagou. O Rio 2016 foi um sucesso aos olhos do mundo. Inclusive aos olhos de
muitos da imprensa internacional que questionavam a capacidade brasileira para
a realização dos jogos. As imagens transmitidas em televisores do mundo foram
de céu limpo, sol forte e praias de areias irradiantes. Confirmando em quadras,
ginásios e estádios o sucesso olímpico. Mas, aos nossos olhos, em olhar
minucioso, o que restou? Ao fim, o que nos trouxe os jogos olímpicos? Obras de
infraestruturas, exposição de belezas naturais, capacidade superativa de
atletas e organizadores. Tudo restrito a uma cidade, e também, a um custo muito
alto. Nos jogos e nas obras estruturais a confirmação do “jeitinho” brasileiro
de fazer as coisas, algo que devemos mudar. Socialmente, não avançamos. Parecia
uma festa para uma pequena parte da sociedade. Os jogos olímpicos – Rio 2016,
expos toda nossa contradição. Por causa dela aparentamos um povo feliz, alegria
a flor da pele. Vivemos com a angústia. E instalamos farmácia em cada esquina. Nas
ruas, avenidas e morros a guerra civil não declarada oficialmente. Pelas ruas
do Rio de Janeiro o medo. Em poucos segundos, em uma falha de aplicativo de
celular, uma curva, uma ladeira ou em um morro: um tiro e uma morte. No mundo
virtual dos jogos televisivos, as cores bonitas dos uniformes dos atletas;
pelas ruas e morros o sangue de mortes evitáveis. Permaneceremos, após os jogos
olímpicos, em um mundo real de nossas cidades: reféns das desigualdades
sociais, geradoras de morros e periferias que assustam nossa vida diária e nos
leva ao medo permanente. A música, a dança, toda nossa riqueza cultural
apresentada na abertura dos jogos olímpicos, tão admirados por nós e o restante
dos povos, mundo afora, não serão suficientes para acabar com nosso medo. Valeu
a pena sonhar? Pelo que nos espera nos próximos meses em mundo real brasileiro?
Não sei.
O conflito é
imenso. Parte de mim, no Centro do Rio de Janeiro, mesmo com toda sujeira da
Baía de Guanabara, com a retirada do concreto da Via Perimetral, e um olhar
mais atento nos museus – Arte do Rio (MAR) e Museu do Amanhã (arquitetura
lindíssima), diz que sim, valeu a pena. Contudo, a razão, aquilo que nos
inquieta a mente e nos leva a pensar, questiona a todo o momento: para tornar a
região portuária carioca tão bela, e bem cuidada, precisávamos de uma Olimpíada?
Precisávamos gastar tanto? Acho que não. Os homens do serviço público e do
mundo político acharam que sim. Precisavam. E deixaram uma conta imensa.
Restam-me os Deuses olímpicos para reclamar. O Cristo Redentor é carioca.
Certamente se encantou com a festa e a Olimpíada. Vigia e protege as belezas
naturais e as coisas da Cidade Maravilhosa. Não vai querer ouvir as queixas do
capixaba.
Sergio
Damião Santana Moraes
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