“Está correndo
um boato de que você morreu. Confirma?” Respondi: estou bem vivo. Um abraço.
“Graças a Deus. Cambada de gente para inventar coisas. Quando me falaram levei
um susto tão grande que meu coração disparou.” O diálogo aconteceu através de
mensagem do WhatsApp, no domingo à noite. O boato iniciara-se na terça-feira.
Quando recebi a mensagem fiquei em dúvida sobre o “confirma”. Desejava
confirmar minha morte ou o boato? Bem... Achei melhor afirmar que estava vivo,
portanto, a morte era um boato. Agradeci pela preocupação que demonstrava. De
terça a domingo, nos cinco ou seis dias da semana, foram intensos em notícias.
Mais ainda, por serem em comunicação instantâneas, aleatórias – mensagens online
não confirmadas. Apesar do tamanho da
nossa cidade, onde as informações podem ser mais bem verificadas, ainda assim,
os desencontros das notícias foram enormes. Na terça, pela manhã, me encontrava
no consultório, as pessoas ligavam e a secretária me informava: “Doutor,
ligaram e pediram seu nome completo, queriam fazer uma oração pelo senhor.” E o
que você disse, perguntava. “Disse que o senhor estava vivo e estava atendendo
normalmente. Ela aproveitou e marcou uma consulta para amanhã à tarde”.
Nos grupos de
WhatsApp perguntavam por mim e eu respondia, quando afirmava a presença em
vida, logo comentavam: “Se não foi o Damião, deve ter sido o outro colega médico.
” O boato é bem diferente do “boca a boca” de tempos atrás. No “boca a boca” se
checava a informação e logo o desmentido. No boato atual, embora rápido, é uma mensagem
gravada, e pode ser lida dias depois, e persistir na tela do celular ou do
computador por um tempo bem maior que na memória dos que recebiam a informação
do “boca a boca”. Em tempos atuais, não precisamos da presença física do
comunicador, o mundo é virtual. A dúvida, no caso do boato, é bem maior e
angustiante. Tanto que, no dia seguinte, na quarta-feira, em grupo de WhatsApp,
a mensagem de confirmação da morte de um dos médicos Sergio, permanecia. Com as
mensagens atuais, morrer ou viver, não afetam as emoções. É apenas isso, uma
mensagem na tela. De tudo, veio a esperança. Recebi uma palavra, com a pessoa
me falando, bem próximo aos meus ouvidos: “O boato da morte é a esperança de
muitos anos de vida.” Fiquei com a impressão que, no Brasil, e em Cachoeiro, o
velho ditado popular que aprendi – “o povo aumenta, mas não inventa”, com a
rede social atual, se transformou em “o povo passou a inventar”. Nas minhas
leituras e crônicas posso inventar – criar um mundo de fantasia, inofensivo, algo
bem diferente do mundo virtual da rede social.
Sergio Damião Sant’Anna
Moraes
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