Nunca fui
afeito às coisas de casa, animais, pássaros... Nem mesmo na infância ou
adolescência. Mas, desde que iniciei com as crônicas, anos atrás, passei a
observar melhor as árvores, praças, parques e detalhes de ruas por onde
caminho. Na Br 101, apesar da morte nos rondar a todo instante; apesar de
insensatos motoristas em carros de passeio; apesar da agressão dos blocos de
mármores e granitos dançando na carroceria de caminhões e a qualquer momento
sermos surpreendidos com um paredão de pedra à frente dos nossos carros; apesar
da insensibilidade e incompetência do Governo Federal com as nossas estradas;
apesar da leniência do Governo Estadual; apesar do uso e abuso da
concessionária ECO 101 (mau cuidadora da nossa Br); apesar da falta de alternativas
para o transporte de cargas em nosso estado e Brasil afora; apesar de terem
destruído nosso melhor transporte (ferrovias) para privilegiar empreiteiras do
Brasil; apesar de tudo, na Br 101, encontra-se beleza, de Cachoeiro a Vila
Velha: encontramos flamboyants em nosso caminho.
Na primavera
elas se sobressaem. Em outubro, novembro e dezembro elas colorem e alegram
nossa estrada. O flamboyant e o Frade e a Freira aliviam a imagem dos blocos de
pedra nas carrocerias dos caminhões. A Delonix regia Raf, flamboyant ou
acácia-rubra, planta tropical leguminosa, árvore exótica, de grande porte (mais
de 10 metros), de copa extensa, com frutos secos e floração intensa, deixa a
paisagem inebriante: ora avermelhada, ora levemente amarelada, tal qual a
pintura de um quadro. Trazida por D. João VI, no início do sec. XIX. Adaptou-se
ao calor e ao sol. Além da Br, onde se destaca, é bem apropriada para quintais
e parques. Em Cachoeiro, ao longo do rio Itapemirim, também podemos apreciá-las.
Por ser chamada de acácia-rubra, com um significado de “afeição pura”, as
flores dessas acácias eram usadas nos tempos antigos, junto com as pétalas de
rosas, para saudarem as coroações de faraós egípcios, reis e imperadores.
Tudo isso que
vemos em nossas estradas e nas ruas de nossas cidades são belezas não
planejadas. Uma arborização aleatória. Fruto de uma natureza exuberante. Em
Cachoeiro, o PDU, antigo PDM, de 2006, na seção VIII – Da Arborização Urbana,
cita, mas não especifica a arborização. Sempre as olhei com os olhos do cronista,
observo apenas a beleza, a força das suas raízes, seu tronco, nunca para os
riscos, na verdade sem os olhos técnicos. Sendo assim, nunca pensei na mais
apropriada para o local onde vivemos. Nunca olhei com os olhos das necessidades
das moradias, lojas, calçadas, fiação, prédios e presença dos outros seres vivos
(alguns trazendo riscos para a saúde das pessoas). Isto é, apenas olhava aquilo
que me encantava. Estamos próximos da revisão do PDU (Plano Diretor Urbano) de Cachoeiro.
Decisões dever se tomadas para o futuro urbanístico do nosso município.
Primeiro as pessoas, depois pensamos no financeiro. Precisamos incluir, na
discussão, um Plano Diretor de Arborização. Planejar as árvores apropriadas
para a nossa região urbana, conversar sobre a oiti - suas folhas têm capacidade
de absorver poluentes do ar; ipê - raízes fundas e bela floração; e a aroeira -
seus frutos atraem pássaros para a cidade. Além do pau-brasil - símbolo do país
e faz sombra sem ocupar tanto espaço.
Sergio Damião Santana
Moraes
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