O médico
pergunta a idade do paciente. Ele responde: sessenta anos. Na verdade,
continua, são sessenta anos e meio, pois, o pai demorou em registrar. O senhor
sabe como era... O médico pergunta o nome. Bom doutor era Perfides, mas, com o
tempo ficou Fidinho, era muito estranho, e feio, Perfides. O médico
impacientava-se com a demora para uma simples identificação. Em outro dia de
trabalho, na urgência do hospital, interna uma presidiária. História criminal
sugestiva de tráfico de drogas do norte do país para a região sudeste. Ela
poderia estar trazendo drogas para os nossos filhos e muitos outros adolescentes,
foi o que pensou. O dever profissional supera o constrangimento inicial. A presidiária,
pela dor abdominal e atraso menstrual (amenorréia), necessita permanecer internada
para investigação c1inica. Por pior que fosse o hospital, ainda assim, era
melhor que o presídio, imaginou o médico. Dois dias depois ela apresentava-se
melhor, para maior segurança necessitava permanecer hospitalizada. Ela solicita
alta do hospital. Quero retornar ao presídio, diz. O médico argumenta. Ela
insiste: no presídio tenho amigas que me cuidam. Sinto-me melhor lá, conclui. Dias
depois encontra no pronto socorro um rapaz com dor abdominal e lombar intensa
sugestivo de có1ica renal. A mãe pede: doutor não faça muitos remédios. Não
aplique um analgésico forte. Prescreva o remédio em forma de comprimido. Ele
estranha e pergunta a razão. Prefiro meu filho com dor e no hospital, do que no
presídio... O portão do hospital, local estratégico na entrada para o trabalho,
encontra-se fechado. Por uma câmera ele é avistado e pelo interfone ouve o funcionário.
Pelas perguntas ele imagina um novato. Identifique-se, diz o neófito. Ele
apresenta um nome com sobrenomes misturados. A porta é aberta. Pelo interfone o
médico confere se ele entendera o nome. O funcionário questiona. Qual seu nome?
O médico visita os pacientes e retorna rapidamente. Solicita abertura do portão.
O noviço repete, identifique-se. O médico: eu já entrei, só quero sair.
O
atendimento na saúde brasileira, Sistema Único de Saúde (SUS), desde a
promulgação da última Constituição (1988) funciona assim: “Um dever do Estado e
um direito de todos.” No papel uma perfeição, a prática longe disso. Mesmo
assim, um avanço comparado a muitos países. Os Estados Unidos da América do
Norte encontra-se em um impasse. O país mais rico do mundo, o que mais gasta em
saúde (percentagem do PIB), entretanto o de maior número de pessoas (52
milhões) sem qualquer tipo de garantia de atendimento. Nós brasileiros, apesar
dos diálogos conflitantes e confusos, temos a lei do nosso lado. Pode não haver
o atendimento na prática diária, mas está escrito que temos o direito. Coisa de
brasileiro, primeiro faz a lei e depois decide quem paga a conta. Isto é, a
decisão do financiamento fica, sempre, para depois. O americano, por isso um dos motivos para a
revolta com o presidente Trump, além de sua insensatez, primeiro pergunta quem
paga a conta para depois dizer se todos têm o direito. Eles sabem que não
existe “almoço grátis”. O Simes
(Sindicato dos Médicos) adverte, em Cachoeiro, quanto ao processo de seleção
para contratação de médicos, pela prefeitura, não tem diálogo. Não podemos
aceitar salários aviltantes.
Sergio Damião
Santana Moraes
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