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Anos atrás presenciei um momento
histórico de Cachoeiro de Itapemirim. Foi a comemoração dos noventa anos de
idade do poeta Athayr. Do professor, como gostava de ser chamado. Na ocasião, antes
de suas palavras finais: Moema lembrou o pai, Deusdedit Baptista, e recitou uma
das poesias do Cagnin; Mirtes Machado levou seu diário com as observações e
elogios escritos pelo professor em 1947; Wilson Rezende relatou algumas
histórias do amigo. A imortalidade do Athayr foi atestada naquele momento. Não
só pela Academia Cachoeirense de Letras, pelos seus versos e rimas, mas também
pelo carinho recebido dos muitos alunos ali presentes. Eu pensei na semelhança
do Athayr com o rio Itapemirim, razão maior da cidade. O Athayr, aparentemente
abatido - pela curvatura do tronco e passos lentos, logo é revigorado e expõe
toda a força da memória, lucidez e impostação da voz. Assim é o rio, nosso
Itapemirim, com as chuvas ele volta forte, encachoeirado. Se não pode ser
navegado, não importa; se não serve à economia, serve à nossa imaginação. As
chuvas dão vida nova ao Itapemirim; o sorriso da Diva mantinha o vigor do
Athayr. Na época, chovia bastante, a força do rio era grande. Em um domingo,
pela manhã, foi assim, por um período curto, como um pequeno verso, uma leve
rima, o bastante para homens e crianças se juntarem ao leito do Itapemirim. Ao
caminhar junto ao rio, eu vi uma menina de tranças em alegre brincadeira com o
pai. Com uma linha e anzol, uma brincadeira de pai e filha junto às águas do
Itapemirim. Longe dos homens, bem no meio do rio, onde as forças das
correntezas se mostravam mais intensas, procurei as garças, não as encontrei. Deparei
com algo inusitado: um pato, de penas escuras, em direção contrária as forças
da água. Não parecia cansado, pelo contrário, mantinha-se persistentemente em
sua trajetória. O dia, após as chuvas, na beira do rio, se assemelha aos dias
que vivi na ilha de Vitória. Vivia em um “braço de mar”, em suas águas calmas,
levemente salobra, tal qual a água do rio. O ponto de referência era o velho
Cais dos Aviões que nunca pousaram. Diferente é a outra ponta da ilha, a Praia
do Canto e Suá, com sua água fortemente salgada, fria e alta. Nas águas mansas
do “braço de mar”, os manguezais se formavam. Os mangues foram aterrados e com
ele desapareceu parte das criaturas do mar.
A
história de Cachoeiro conta em parte com a história do professor Athayr. O
confrade, também imortal, Estelemar Martins, em seu livro didático de poesias,
define o poeta como aquele que tem a arte de cantar o belo, materializar a alma
na combinação de versos, lapidar rima como um diamante raro. A poesia de
Cachoeiro ficava mais bonita quando Athayr combinava perfeitas rimas para sua
Diva. Com a reforma da Casa dos Braga, e a lembrança do Athayr, com a poesia e
a crônica, suporto melhor os dias tristes da política nacional.
Sergio Damião Santana Moraes
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