Há sete meses,
escrevi: “Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” O sul do Estado capixaba
está esquecido. Portanto, olhai pelos necessitados. Ainda que pecadores.
Pedimos socorro. Falo da saúde dos que aqui vivem. O serviço de média e alta
complexidade hospitalar da nossa região precisa do seu olhar. Encontra-se à
beira da falência. O olhar dos seus auxiliares, e as informações que recebe, é
um olhar técnico, de números, do gestor. Talvez eficiente naquilo que propõem,
nem sempre reflete a realidade do nosso dia a dia. A rede hospitalar do sul do
Espírito Santo é praticamente filantrópica. É a que oferece, na urgência e
serviços complementares, a resolutividade esperada, tanto para a criança quanto
para o adulto. Aproximamos-nos aos 100% de atendimento aos SUS (na prática
tornam-se hospitais públicos, sem serem estatais). Cachoeiro, com seus três
grandes hospitais filantrópicos – Santa Casa, Evangélico e Infantil, recebe
toda demanda dos municípios vizinhos. A cada dia, nós, prestadores de serviços,
percebemos as carências se avolumando e a qualidade do atendimento se
comprometendo. Com os cortes financeiros que foram feitos pela Secretaria de
Saúde do Espírito Santo, a falta de complementação da tabela do SUS, é
impossível um gestor, por melhor que seja, manter o atendimento no sul do
Estado. Há seis meses, escrevi: nada mudou. No absurdo das condições em que
atendemos ao SUS, sinto-me como um homem em queda de um prédio de dez andares.
A cada momento, o governo diz: “Está tudo bem!” No avanço da queda, ele repete:
“Está tudo bem!” Eu percebo se aproximar o chão, nada posso fazer, o trauma é
inevitável. Perdi a esperança. A única voz que ouço é a dos pacientes e de seus
familiares, uma voz rouca de abandonados pelos cantos dos hospitais. Há três meses:
percebo e ouço movimento na área da saúde. Algo confuso. São promessas de um
novo Hospital (isto é bom, porém ouvimos promessas anos atrás, e é algo para
médio ou longo prazo). A questão atual é da urgência e emergência dos maiores
hospitais da região sul. Não se resolve apenas com Boa Gestão, necessita-se dos
recursos financeiros – estes estão bem abaixo do necessário. Há dois meses:
permanecemos como antes. É verdade que, de longa data, a saúde pública
apresenta complicações crônicas com agudizações. Isso leva à insegurança.
Hoje: empréstimo
à Santa Casa de Cachoeiro pela Caixa Econômica Federal. A Caixa, apesar de
Estatal, é um banco. E bancos cobram dívidas e juros. Governador, como bom
economista que és bem sabe, pois alguém já disse e escreveu: “Não existe almoço
grátis.” Para pagar as dívidas, e manter serviços, os hospitais precisam da
ajuda efetiva do Estado. E, esta, ainda não chegou. Sem esta ajuda será um eterno
endividamento e crises agudas. É verdade, também, que existe o mutirão das
cataratas. Os idosos enxergarão melhor. Isso é bom. Ficamos agradecidos. Porém,
o risco, para o governo, é que eles enxergarão melhor, com isso poderão ver o
que os jovens já enxergaram: as mazelas da saúde pública permanecem como
sempre.