Gosto de
caminhar pelas ruas das cidades. Qualquer cidade. Mais ainda pelas ruas de
Cachoeiro em direção ao rio Itapemirim. Faço o trajeto até a Ilha da Luz. Ao
caminhar, vemos detalhes da urbe. Detalhes do calçamento em torno das casas,
lojas e prédios; da coleta e destino do lixo; das árvores e plantas próprias da
região; bem como os hábitos da população, principalmente o uso adequado e
racional da água. É a melhor maneira de
conhecermos um povo. O que vemos pelas ruas das nossas cidades é desanimador.
Tanto pela parte pública, quanto pelo lado das pessoas. Não é difícil constatar os contrastes em nosso
país. Em todas as cidades brasileiras, um pouco melhor no sul do país. Além de
não exigirmos a limpeza, degradamos o ambiente: jogamos latas e plásticos nos
rios; destinamos e armazenamos mal o lixo a ser recolhido; resíduos de animais nas
calçadas... Isto é, o lixo não é um problema de cada um de nós. Não nos importamos onde ele vai estar desde
que não esteja na porta do meu estabelecimento ou da minha casa. Para
desaparecer o mosquito, precisamos mudar culturalmente. Antes das vacinas, que
tanto procuramos e desejamos, devemos pensar em nosso lixo de cada dia. Um grau
de civilização que precisamos alcançar.
Dia desses, estava em São Paulo, revi uma rua:
Rua Oscar Freire. Fica no bairro dos Jardins, na capital paulista. Já a
conhecia de tempos atrás, na época da pós-graduação, na residência médica do
Hospital das Clínicas. Morava na Rua Teodoro Sampaio, uma rua que corta a Oscar
Freire, já no seu final, bem próximo à Avenida Dr. Arnaldo. Seu ponto mais
charmoso é no encontro com a Rua Augusta. Apesar de todo luxo, beleza e ilusão da
rua atual, Oscar Freire de Carvalho nasceu na Bahia. Médico, homem simples, formou-se
na primeira Faculdade de Medicina do Brasil (Salvador). Faleceu na capital
paulista no início dos anos vinte do Séc. passado. Médico Legista, pelos seus conhecimentos
ajudou a fundar a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A
convite do Prof. Arnaldo Vieira de Carvalho chefiou o Instituto Médico Legal
(IML). Ao falecer, a rua ao lado do Instituto tomou o seu nome. Com o tempo, a rua paulistana tornou-se uma
referência em moda. A beleza das lojas e
o seu traçado tornaram-se conhecidos no Brasil e no Mundo. No dia em que a
visitei, não caminhei. Sentei em frente a uma livraria e ali fiquei. Observei
as pessoas, gente do mundo inteiro, permaneci horas junto à calçada, com o
celular e jornal sobre a mesa. Não fui importunado, não sofri agressões e nem
houve arrastões. Vi pessoas com animais; vi pessoas com carrinhos provenientes de
uma feira livre... Coisas de uma Rua brasileira protegida da barbárie. À tarde,
caminhei em Moema, bairro em que as vias públicas possuem nomes indígenas. Pelos
seus arredores alcancei o Parque Ibirapuera, os raios do sol poente
apresentavam-se sobre as árvores e mostravam luzes diferentes no alto dos monumentos
e prédios. Um encantamento. Renovava minha esperança de um dia caminhar em
Cachoeiro sem me entristecer com os lixos esparramados por nossas ruas.
Sergio Damião Sant’Anna
Moraes
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