Há três meses,
escrevi: “Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” O sul do Estado capixaba
está esquecido. Portanto, olhai pelos necessitados. Ainda que pecadores.
Pedimos socorro. Falo da saúde dos que aqui vivem. O serviço de média e alta
complexidade hospitalar da nossa região precisa do seu olhar. Encontra-se à
beira da falência. O olhar dos seus auxiliares, e as informações que recebe, é
um olhar técnico, de números, do gestor. Talvez eficiente naquilo que propõem,
nem sempre reflete a realidade do nosso dia a dia. Precisamos de outro olhar: sensível
às mazelas em que vivemos em nossos hospitais. A rede hospitalar do sul do
Espírito Santo é praticamente filantrópica. É a que oferece, na urgência e
serviços complementares, a resolutividade esperada, tanto para a criança quanto
para o adulto. Aproximamos-nos aos 100% de atendimento aos SUS (na prática
tornam-se hospitais públicos, sem serem estatais). Cachoeiro, com seus três
grandes hospitais filantrópicos – Santa Casa, Evangélico e Infantil, recebe
toda demanda dos municípios vizinhos. Algo vai mal e se assemelha ao que
passamos no fim do século passado. Em 1999, os portões da Santa Casa de
Cachoeiro se fecharam. Com os cortes financeiros que foram feitos pela Secretaria
de Saúde do Espírito Santo, a falta de complementação da tabela do SUS, é
impossível um gestor, por melhor que seja, manter o atendimento no sul do
Estado. Há dois meses, escrevi: nada mudou. No absurdo das condições em que
atendemos ao SUS, sinto-me como um homem em queda de um prédio de dez andares.
A cada momento, o governo diz: “Está tudo bem!” No avanço da queda, ele repete:
“Está tudo bem!” Eu percebo se aproximar o chão, nada posso fazer, o trauma é
inevitável. Perdi a esperança. A única voz que ouço é a dos pacientes e de seus
familiares, uma voz rouca de abandonados pelos cantos dos hospitais. Com o natal,
a esperança deveria persistir. É... O silêncio que ouvimos, não anima a saúde
do sul do Espírito Santo. Há um mês: percebo e ouço movimento na área da saúde.
Algo confuso. São promessas de um novo Hospital (isto é bom, porém ouvimos
promessas anos atrás, e é algo para médio ou longo prazo). A questão atual é da
urgência e emergência dos maiores hospitais da região sul. Não se resolve
apenas com Boa Gestão, necessita-se dos recursos financeiros – estes estão bem
abaixo do necessário. Muitas vezes, no hospital, ficamos assim, com aparelhos e
área física novos, mas sem os recursos humanos ou materiais para seu
funcionamento.
Hoje:
permanecemos como antes. É verdade que, de longa data, a saúde pública
apresenta complicações crônicas com agudizações. Porém, a fase aguda em que nos
encontramos parece não ter fim, e com perspectiva de piora, existem sinais
evidentes. Isso leva à insegurança. O perfeito atendimento médico – hospitalar
é uma das melhores formas de garantia da vida. A área social em harmonia nos
faz seguros. Infelizmente, no sul do estado, estamos longe disso.
Sergio
Damião Santana Moraes