segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

Caos na Saúde

Há dois meses, escrevi: “Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” O sul do Estado capixaba está esquecido. Portanto, olhai pelos necessitados. Ainda que pecadores. Falo da saúde dos que aqui vivem. O serviço de média e alta complexidade hospitalar da nossa região precisa do seu olhar. Encontra-se à beira da falência. O olhar dos seus auxiliares, e as informações que recebe, é um olhar técnico, de números, do gestor. Talvez eficientes naquilo que propõem, nem sempre reflete a realidade do nosso dia a dia. Precisamos de outro olhar: sensível às mazelas em que vivemos em nossos hospitais. A rede hospitalar do sul do Espírito Santo é praticamente filantrópica. É a que oferece, na urgência e serviços complementares, a resolutividade esperada, tanto para a criança quanto para o adulto. Aproximamos-nos aos 100% de atendimento aos SUS (na prática tornam-se hospitais públicos, sem serem estatais). Cachoeiro, com seus três grandes hospitais filantrópicos – Santa Casa, Evangélico e Infantil, recebe toda demanda dos municípios vizinhos. Algo vai mal e se assemelha ao que passamos no fim do século passado. Em 1999, os portões da Santa Casa de Cachoeiro se fecharam. Com os cortes financeiros que foram feitos pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo, a falta de complementação da tabela do SUS, é impossível um gestor, por melhor que seja, manter o atendimento no sul do Estado. Temos medo de encaminhar nossos pacientes para a Grande Vitória, o caminho é longo, as curvas são acentuadas, já o fizemos anteriormente e muitos não retornaram. “Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” É o que nos resta.
Há mais de um mês, escrevi: nada mudou. No absurdo das condições em que atendemos ao SUS, sinto-me como um homem em queda de um prédio de dez andares. A cada momento, o governo diz: “Está tudo bem!” No avanço da queda, ele repete: “Está tudo bem!” Eu percebo se aproximar o chão, nada posso fazer, o trauma é inevitável. Perdi a esperança. A única voz que ouço é a dos pacientes e de seus familiares, uma voz rouca de abandonados pelos cantos dos hospitais. Com o natal, a esperança deveria persistir. É... O silêncio que ouvimos, não anima a saúde do sul do Espírito Santo. 
Hoje: percebo e ouço movimento na área da saúde. Algo confuso. São promessas de um novo Hospital (isto é bom, porém ouvimos promessas anos atrás, e é algo para médio ou longo prazo). A questão atual é da urgência e emergência dos maiores hospitais da região sul. Não se resolve apenas com Boa Gestão, necessita-se de recursos financeiros – estes estão bem abaixo do necessário. Fico com a impressão de um individuo com uma casa antiga e sem garagem, recebe de presente uma Mercedes. Mas, na verdade, necessita de um fusca com o tanque cheio de combustível, para que o leve e traga do seu trabalho. Muitas vezes, no hospital, ficamos assim, com aparelhos e área física novos, mas sem os recursos humanos ou materiais para seu funcionamento.  



Sergio Damião Santana Moraes

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