segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Caos na Saúde

“Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” O sul do Estado capixaba está esquecido. Portanto, olhai pelos necessitados. Ainda que pecadores. Pedimos socorro. Falo da saúde dos que aqui vivem. O serviço de média e alta complexidade hospitalar da nossa região precisa do seu olhar. Encontra-se à beira da falência. O olhar dos seus auxiliares, e as informações que recebe, é um olhar técnico, de números, do gestor. Talvez eficientes naquilo que propõem, nem sempre reflete a realidade do nosso dia a dia. Precisamos de outro olhar: sensível às mazelas em que vivemos em nossos hospitais. Mas, com seu olhar modificado, poderá ver em nossos olhos toda angústia e ansiedade. A rede hospitalar do sul do Espírito Santo é praticamente filantrópica. É a que oferece, na urgência e serviços complementares, a resolutividade esperada, tanto para a criança quanto para o adulto. Aproximamos-nos aos 100% de atendimento aos SUS (na prática tornam-se hospitais públicos, sem serem estatais). Em cada cidade sulina existe um hospital filantrópico. Acreditamos em sua sensibilidade, temos esperança de dias melhores. Cachoeiro, com seus três grandes hospitais filantrópicos – Santa Casa, Evangélico e Infantil, recebe toda demanda dos municípios vizinhos. A cada dia, nós prestadores de serviços, percebemos as carências se avolumando e a qualidade do atendimento se comprometendo. A falta de material é crescente. O esforço físico é imenso, a angústia também. É algo a olho nu, não precisamos de números ou estatísticas. Bastam nossos sentidos. Algo vai mal e se assemelha ao que passamos no fim do século passado. Em 1999, os portões da Santa Casa de Cachoeiro se fecharam. Com os cortes financeiros que foram feitos pela Secretaria de Saúde do Espírito Santo, a falta de complementação da tabela do SUS, é impossível um gestor, por melhor que seja, manter o atendimento no sul do Estado. Temos medo de encaminhar nossos pacientes para a Grande Vitória, o caminho é longo, as curvas são acentuadas, já o fizemos anteriormente e muitos não retornaram. A BR 101 é uma estrada da morte. “Governador Paulo Hartung, olhai por nós.” É o que nos resta.
O texto foi escrito há mais de um mês. Nada mudou. No absurdo das condições em que atendemos ao SUS, sinto-me como um homem em queda de um prédio de dez andares. A cada momento, o governo diz: “Está tudo bem!” No avanço da queda, ele repete: “Está tudo bem!” Eu percebo se aproximar o chão, nada posso fazer, o trauma é inevitável. Perdi a esperança. A única voz que ouço é a dos pacientes e de seus familiares, uma voz rouca de abandonados pelos cantos dos hospitais. Com o natal, a esperança deveria persistir. É... O silêncio que ouvimos, não anima a saúde do sul do Espírito Santo. 


Sergio Damião Santana Moraes

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