“Não canse quem te quer bem”. Li
a frase em crônica de jornal de fim de semana. Na verdade, a pergunta deveria
ser: Por que nos agredimos tanto? A resposta parece óbvia: só uma pessoa bem
próxima (trabalho, escola, família) para nos ouvir. E cansamos de várias
maneiras. Com lamúrias, mau humor, agressões físicas, indiferenças... Por isso,
aquele que não tem o convívio mais intimo e diário, fica com as aparências. E
assim, a máxima: “Ele ou ela parece tão manso”. E recebem de volta: “Viva com ele
ou ela”. Dorme e verá. Em Buenos Aires, no letreiro de uma loja de Shopping Center,
eu vi: “Como queres que eu te queira”. Não sei se o espanhol é exatamente este.
Lembra uma provocação amorosa. Tratava-se de uma loja de lingerie. Lembra uma
paixão, tempos que cedemos e nos colocamos à disposição de outra pessoa. Mas, poderia
ser para todas as formas de amor e cuidado. Uma forma evoluída e educada de
tratamento para aqueles que nos querem bem e, também, para os que não conhecemos.
Evitaríamos palavras que machucam tanto quanto a força física. Deixaríamos a
indiferença perdida e lembrada apenas em letras de músicas de paixões não
resolvidas. Na música pode constar: “Quem eu quero não me quer / Quem me quer
mandei embora...” Em nossa vida, as coisas da paixão seriam esquecidas. E na
razão das coisas, voltaria à pergunta: Como deseja ser tratado?
No
dia a dia é frequente em hospitais o mau humor de pacientes com aqueles que os
rodeiam. Com familiares ou prestadores de serviços. É verdade que muitas vezes
o cansaço do trabalho ou dos cuidados não facilita o bom relacionamento. São
manifestações diversas em enfermarias de doenças crônicas ou Pronto Socorro. Estar
saudável ou alegre pode ser uma agressão para aquele com manifesta tristeza.
Como se devessem sentir as mesmas dores ou indisposições. O reconhecimento pelo
cuidado é raro. Por mais que se cuide, não é o bastante. Não acho o agradecimento
necessário. Aqueles que cuidam, familiar ou profissional da saúde, cuidam pelo
dever ou porque gostam. Não devem esperar nada em troca. Mas, o mundo seria bem
melhor se, além da disposição de fazer o bem, existisse o desejo e iniciativa
de agradecer daqueles que recebem. E que cada um percebesse que o seu problema
ou dificuldade não é único, nem o maior de todos. E que cada um, por mais que
não aparente, carrega dores e tristezas suas e de outros. Portanto, merece um
descanso e um olhar de agradecimento.
Abril, 2011.
Nenhum comentário:
Postar um comentário