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A cultura (manifestações
artísticas, sociais, linguísticas e comportamentais) é mal preservada em nossa
cidade, estado e país; assistimos, também, passivamente, um tratamento nada
diferente para os idosos. Em nosso país: conhecimentos atuais, passado e futuro,
pouco importa. Presenciamos a ausência de memória cultural. Se não queremos
nossas lembranças, as pessoas, com o passar do tempo, tornam-se descartáveis.
Sem utilidade para a sociedade. Com o tempo ouvem menos e deixam de ser
ouvidos. São ignorados. Com os anos vividos, mesmo com toda experiência de
vida, conhecimento adquirido, ainda assim são ignorados. No tempo perdem força
muscular e diminuem capacidade de memorizar: perdem a identidade. Com a
diminuição da produtividade ficam sem importância e utilidade. Reina a
indiferença. A indiferença é gradativa. Mudanças sutis. Para sentirem-se vivos
precisam produzir. Não podem parar. Não existe direito ao descanso. A sociedade
exige produção até a morte. Poucos vivem com qualidade – direito ao lazer e
descanso; nessa selva, a maioria sobrevive. Crescemos assim, incentivados para
competição. As virtudes não são valorizadas. Com as exigências sociais: adoecemos.
A sociedade adoeceu. Precisamos de um novo paradigma. Vivemos assim:
descartando pessoas e valores. Exigindo produção e resultados. Descartamos os
de mais idade, descartamos os sem memória, o feio; isolamos os alienados,
descartamos o diferente. Temos que seguir um modelo. Modelo do belo, do
vencedor, do inteligente. Manter uma padronização no vestir, no
comportamento... Temos que acumular riquezas e poder. Na ausência do poder
público, precisamos acumular riquezas para garantia do futuro. Séculos atrás
existiam os mecenas. Burgueses e nobres mantinham a produção artística. Na
atualidade, transferimos a responsabilidade para os governos. Pagamos impostos
e lavamos as mãos quanto à produção cultural. Governos ruins, desorganizados,
corruptos, desviam o dinheiro da saúde, educação. Justificam a falta de
investimento nessas áreas: inutilidade da cultura e a falta de urgência na
educação. Ficamos sem a força física em idade avançada e sem memória na
juventude.
Por dois dias
não trabalhei: um fim de semana. Visitei Museu e li poesias. Vi um quadro de
cores vibrantes: Convento da Penha e a prainha de Vila Velha se destacavam. Uma
alegria me invadiu o corpo. Procurei saber sobre o autor, um completo
desconhecido. Pelo que ouvi, estava em idade avançada quando produziu o quadro.
Vivia pelos bancos da Praça da Prainha, bem próximo à Igreja do Rosário – a
mais antiga do Espírito Santo e Marco do início da Colonização do Solo
Capixaba. Com a poesia, o jogo de palavras, o canto alegre e triste alternando
nos versos, completava meu dia. Coisa simples de pessoa que não mais existe. Mesmo
sem existir, alegrou meu fim de semana. Era idoso e usou toda experiência de
vida na pintura. Como não valorizar a alegria despertada pela arte?
Sergio Damião Santana
Moraes