Recebi do
Juarez Marqueti um DVD. Estava próximo à Santa Casa e levava comigo um livro de
poesias do T. S. Eliot, selecionei: “O tempo presente e o tempo passado/ Estão
ambos talvez presentes no tempo futuro/ E o tempo futuro contido no tempo
passado./ Se todo tempo é eternamente presente/ Todo tempo é irredimível.” E
conclui: “Em meu princípio está meu fim.” Era uma quinta-feira. No dia seguinte
viajaria para Vila Velha. Na sexta, pela manhã, logo que alcancei a BR 101,
acionei o DVD e passei a ouvir a voz do Juarez, inconfundível. Marcante. Em
alto e bom som ouvia a tradução de músicas românticas da língua inglesa e
francesa, a maioria americana e bem conhecida. Além da melodia agradável, as
letras das músicas decifradas falavam de paixões, desilusões, esperanças, alegrias,
angústias... Isto é, todos os sentimentos humanos. Entre uma melodia e outra,
uma citação filosófica, tal como: entre a razão e a emoção, a que nos apegar?
Algo difícil de responder. A razão é o que organiza a sociedade, se aproxima do
que nos faz verdadeiramente humanos, um ser pensante e inteligente. Mas, é a
emoção, com seus impulsos, que move o mundo e a humanidade. Não seríamos o que
somos sem a coragem e a pulsão. Sem os considerados diferentes ou loucos. A
razão se aproxima do amor, com suavidade, tranquiliza a alma, modera nossos
desejos, liberta o pensamento; a emoção busca a paixão e devora a razão, e com
isso acende desejos e domina nossos sentidos.
Pela BR, com o
dia nublado, as melodias preenchiam meus sentidos, as letras das músicas eu
gravava em memória. Ouvia: Para quem ama, não necessita de palavras, basta o
olhar. O olhar é revelador. Para o apaixonado, a pessoa amada é única e
primeira. A busca é pela completude (corpo e alma). Além das coisas da paixão
amorosa, as melodias falavam da natureza, do sol e do céu, das cores do
arco-íris, de amizades, do mundo maravilhoso em que vivemos. Com a música,
imaginamos um mundo melhor, pessoas vivendo o seu dia, vivendo em paz – sem
matar ou morrer. Com ela, desejamos a liberdade do pássaro, para terras
distantes, em campos verdes e florestas, seguindo o vento, voando como o pombo
- Skyline Pigeon. Ao chegar a Cachoeiro, procurei a poesia e li: “A única
sabedoria a que podemos aspirar/ É a sabedoria da humildade: a humildade é
infinita. [...] Lar é
de onde se vem. À medida que envelhecemos/ O mundo se torna mais estranho, mais
intrincada essa questão/ De distinguir mortos e vivos./ Não o intenso momento/
Isolado, sem antes e depois, / Mas toda uma vida ardendo a cada instante/ E não
a vida de um homem apenas/ Mas a de antigas pedras que não podem ser decifradas./
Os velhos devem ser exploradores,/ Aqui ou ali, não interessa/ Devemos estar
imóveis e contudo mover-nos/ Rumo à outra intensidade/ A uma união mais ampla,
uma comunhão mais profunda/ Em meu fim está meu princípio.”
Sergio Damião Santana Moraes
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